Da Jornada Eterna, parte VII
Retornos
Em meus grotescos mangues rastejo
No meu lodo parado eu afundo
Vendo ao longe celeste cortejo
Luminar de semblante profundo
Lágrima e sangue aqui derramei
No passado não muito distante
Terras estas que eu mesmo atolei
Por de um erro que jaz obstante
Imponente o riacho carmim
De meu sangue que não mais escorre
Ainda tinge em vermelho de mim
A verde grama que ali seca e morre
Atravesso-o pleno de certeza
E morto afundo direto ao seu leito
E ele me mostra em sua correnteza
Todo o erro que por mim foi feito
Ò corrente cruel e profunda
Que me algema e também me liberta
Em torrente viscosa e imunda
Da prisão pessoal que liberta
Ao sair e secar-me do sangue
Que de mim gotejou no passado
Escostado na mata do mangue
Vejo vulto surgir a meu lado
De armadura brilhante e polida
Qual um santo de um mito antigo
Qual doutor a tratar da ferida
Vem sorrindo até mim o amigo
Vem de pique correndo em campina
Vem veloz e certeiro me abraça
Crucial sua ajuda divina
Quando eu quedei em desgraça
É assim verdadeira amizade
No pior e mais cruel tormento
Quando um dia ajudares alguém
Pela lei da reciprocidade
Chegará o devido momento
Que ele vem e te ajuda também
Pois a minha jornada é distante.
Pois a minha jornada é tão bela.
Eternos passos em busca da Vida.
Colecionando mais uma ferida.
A cada dia em que busco por Ela.