Nas Geleiras da Luxúria, Parte I
Descendo a savana orgulhosa
De espíritos atormentados
Chego em frias estepes
De vegetação asquerosa
Liquens e musgos nojentos
Cobertos de neve sangrenta
São nas Geleiras da Luxúria
Que o pobre coração se arrebenta
Vejo dispostas em fileiras
De champanhe garrafas enormes
Uma massa viscosa, grudenta
As preenche de forma uniforme
Essa massa de bolhas estranhas
De almas luxuriosas
O calor que lhes vêm das entranhas
Os transformam em cera asquerosa
Desta massa de corpos fluidos
De calor em um só elemento
Pois mal sabem que sua luxúria
É o maior de todos os tormentos
E tais almas amalgamadas
Entregues total às sensações
Em um só corpo serão congeladas
Por muitos e muitos verões
Sensações que tanto idolatravam
Em êxtase puro e sem igual
Consequências que elas mesmas arcam
Quando viram gelo por total
E estas almas luxuriosas
Já percebem então que amar
Não se faz de uma hora pra outra
Como faz-se uma cera esquentar
Esta mesma cera quando esfria
Por incrível que isso pareça
Na garrafa pra sempre entalada
Até que um dia ela amoleça
Só que esse é delas o castigo
Fundidas todas por belo tempo
Até que todas elas vejam
Que amar começa de dentro
Começa dentro de nós mesmos
Por nós e pelo irmão
Pois amar é mais que simplesmente
Entregar-se a fugaz tentação
Tal qual aqueles radioperadores
Acorrentados em seus aparelhos
Pobres almas presas em sua garrafa
Não conseguem ouvir meus conselhos
De desejo estão surdos e cegos
Congelados em insanidade
Como dar soco em tábua com pregos
Os marcará pela Eternidade.
Pois a minha jornada é distante.
Pois a minha jornada é tão bela.
Eternos passos em busca da Vida.
Colecionando mais uma ferida.
A cada dia em que busco por Ela.
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