quinta-feira, maio 31, 2007

A Morte ainda Viva I



Chuva fina, céu escuro. Tijolos, pilares, um muro.
Pequenos cometas ainda quedam, de vermelho o céu riscando.
Eu, uma sombra, sentado em pedra escutando.

No gramofone belas canções, no céu relâmpagos e trovões
O manto negro esvoaçando no ambiente, colunas altas de fumaça
Mais demônios, lá errantes e o tempo que não passa

Inerte ao solo jaz o templo, despedaçado, de uma era onde o mundo parecia mais alegre
Pálidas cores e arcos-íris. Meras ilusões, também de nuvens e felicidade
Agora no solo o negro da dor, não pela perda, mas pela verdade

A chuva molha um solo seco e lodoso, onde antes haviam flores
Temores, dores, amores
Se infiltram junto ao lodo numa terra já infértil

Pelo sangue derramado em épica batalha
Onde exércitos ferozes até a morte combateram
E a Morte encontravam, aqui sentada os aguardando

Ao chão imagens e estátuas, não de deuses, mas pessoas
Não há preces, mas palavras, já manchadas pelo sangue
Que escorre e forma um mangue

Entre a terra enlameada
O visco atrai moscas
que voam, toscas
Em círculo fechado

E Eu aqui sentado
Com um sorriso em meu rosto descarnado
Pelo corpo cicatrizes de batalhas

Já travadas em mortalhas
Contra inimigo mortal
Que brotava, parasita, de dentro do emocional

No templo que jaz destruído, ainda algumas lembranças
De épocas gloriosas
Onde sobre gramas fantasmas, castelos e princesas surgiam

E nas trevas do desespero, logo após elas sumiam
Pois a Verdade é relativa, e a Morte, sentada altiva
Escutando canções agradáveis

Pra que quando se erga das cinzas
Sorrindo vitoriosa
Ainda talvez lacrimosa

Pela falta dos mundos perfeitos
Criados na mentira, nos defeitos
Ainda que fantasmas, ilusões

Que o saciavam por momentos
Mas se que se foram com os ventos
Os ventos de um novo dia

Então me erguendo das Trevas
Perante o horizonte contemplo
Imaginando a nova façanha
De erguer novamente meu templo
No cume de outra, mais alta
Mais bela, mais escarpada
Mais verdadeira montanha.


1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

...não me atrevo a comentar sobre este post, pois seria uma heresia manchar tão sábias e dolorosas palavras com meu humilde comentário...

2:14 AM  

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